26 Jan Cara de Espelho, chegou o disco de estreia!
Estrearam-se em outubro de 2023 com “Corridinho Português” e “Político Antropófago”, um duplo single que apresentou a sonoridade singular de Cara de Espelho, o novo projeto da música popular portuguesa, que reúne Pedro da Silva Martins, Carlos Guerreiro, Nuno Prata, Luís J Martins, Sérgio Nascimento e Maria Antónia Mendes. É editado hoje, dia 26 de janeiro, o aguardado álbum de estreia “Cara de Espelho”, que estará disponível em CD, Vinil e em todas as plataformas digitais, antecipando uma digressão que percorrerá o país ao longo do ano de 2024 e cujas primeiras datas já foram anunciadas.
Explorando a riqueza da música popular portuguesa, o álbum percorre uma viagem que é também uma homenagem à sua diversidade, às suas origens e à sua história. Uma história feita de cruzamentos, encontros e diálogos entre tantas pessoas, povos e culturas que no passado, tal como no presente, constroem a comunidade e o país que somos. Um país que aqui é narrado tanto na sua leveza e festividade, como nas suas sombras e questionamentos.
Nada fica por cantar, em doze temas que percorrem sonoridades distintas, tanto acústicas como elétricas, soturnas ou celebrativas, salientando igualmente texturas sonoras de influência árabe e africana. E nada fica por dizer, em doze temas que vão ao osso e às entranhas do que somos, nestes tempos de conflito e polarização, mas também de interrogação e compromisso com um futuro que continua em aberto.
Cada canção é o reflexo das virtudes ou defeitos, das fraquezas, dos pequenos ou grandes poderes, dos tiques, dos vícios, disto que é ser cidadão ou, no sentido lato, do que é ser humano.
Povoado por diversas inquietações, Cara de Espelho enfrenta, sem receios, os mitos de uma suposta “genuinidade portuguesa”, tão empenhada em demonstrar a sua pureza que por vezes se esquece que “a guitarra é portuguesa / de pau santo da Bahia”, que “o bacalhau tão soberano / afinal vem da Noruega” ou que “nem mesmo Afonso Henriques / era puro português” (em “Genuinamente”). Ser português, na visão deste álbum, é ser mais rico, plural e diverso, tanto na sua história como no seu futuro. Uma visão que talvez possa não agradar a um tal de “Dr Coisinho”, “le penesinho pequenino”, que “sai debaixo do penedo” para “coisificar o medo” (em “Dr Coisinho”). E provavelmente também não agradará a uma certa criatura necrófaga que “crava a unha, carne, pele e osso / ferra o dente sedenta no pescoço” (em “Político Antropófago”); ou até àquelas famintas varejeiras que “anseiam pobreza”, “fomentam o asco, a náusea e o nojo”, fazendo da miséria opulência (em “Varejeiras”).
A acutilância crítica da música popular está sempre presente ao longo do álbum, que também é pródigo na sua veia satírica e provocadora, seja para parodiar a insaciável inclinação política por tachos, luzes, opulência e distinção (em “Testa de Ferro”) ou para ironizar com os labirintos kafkianos da Autoridade Tributária e da santa religiosidade financeira, ornamentada pelos seus sagrados paraísos fiscais (em “Paraíso Fiscal”).
Mas nem só de crítica e sátira vive este trabalho, que é também uma celebração da liberdade e da existência em comum. É desta forma que, perante um mundo de polarizações, se torna necessário denunciar a violência e os despojos da guerra (em “Tratado de Paz”), como também celebrar esse grande Fadistão, lugar agraciado por todas as vozes das culturas que cantam em conjunto (em “Fadistão”), ou a possibilidade de “juntar a malta numa boa / a um corridinho de Lisboa / volta e meia e roda o par” (em “Corridinho Português”). Trata-se, no fundo, de cantar uma ideia de liberdade que não se deixa aprisionar pelo fatalismo – seja em vida (em “Livres Criaturas”) ou na hora da partida, que há-de ser leve e dançada ao som de “tubas e bombos, morteiros e estrondos” (em “Morte do Artista”).
“Cara de Espelho” parte das palavras e composições de Pedro da Silva Martins, às quais se associam as construções de instrumentos de Carlos Guerreiro, o baixo de Nuno Prata, as guitarras de Luís J Martins e as percussões de Sérgio Nascimento, para servir a voz profunda, envolvente e inconfundível de Maria Antónia Mendes. Um coletivo de músicos que nos últimos anos animou alguns dos mais relevantes e inventivos projetos da música portuguesa e cujo álbum de estreia não deixou indiferente um dos heróis da nossa música popular. Assim se referiu Sérgio Godinho ao disco de estreia de banda:
Cara dos nossos espelhos
De um excelso grupo assim, com provas dadas em várias frentes, só se pode esperar o melhor. Coloca-se a fasquia alta, sem medos de falhar, de ser apenas uma vírgula no tempo. E se for, não valerá ela por si mesma, pelo prazer comum de criar algo de perene num momento, de partilhar entre si e entre nós o simples prazer da música, o entusiasmo da música, a cadência, a inventividade, outra forma de energia?
Como se cumpre então as expectativas? Precisamente cumprindo. Parece uma redundância, mas é apenas o pôr em prática de uma realidade moderna e já antiga.
Ver a nossa cara particular no espelho comum. Missão desde logo bem executada, digo eu. E nisso estou de acordo comigo, como por certo muita gente estará.– Sérgio Godinho –
ALINHAMENTO
1) Cara Que é Tua
2) Corridinho Português
3) Paraíso Fiscal
4) Dr. Coisinho
5) Político Antropófago
6) Tratado de Paz
7) Testa de Ferro
8) Fadistão
9) Livres Criaturas
10) Morte do Artista
11) Genuinamente
12) Varejeiras
NOVO VÍDEO
“Nós sabemos quem perdeu…”ouvimos, em coro, em Tratado de Paz, uma balada triste dos Cara de Espelho.
O desafio de fazer um novo videoclipe para a banda (depois de Político Antropófago e Corridinho Português) aumenta, quando a premissa é a simplicidade, sem nunca distrair da beleza da música e da força da letra.
Manter simples e belo, porque não há grandes metáforas, quando falamos de guerra e paz…Joana Brandão, Realizadora
DIGRESSÃO
Com o lançamento do álbum, os Cara de Espelho começam uma digressão nacional que se inicia já no dia 24 de fevereiro no Theatro Circo, em Braga, seguindo-se concertos no Cineteatro Louletano, em Loulé, a 2 de março, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, a 5 de março, e na Casa da Música, no Porto a 16 de março.