29 Out Entrevista: Bluecomotive talks with… Cristina Branco
«Fazer música é cada vez mais uma teimosia»
É necessário ir ao passado para agitar o presente. É vital trazer para o momento atual algo com força suficiente para dar às pessoas um caminho de liberdade contra a censura. Assim nasceu o álbum “Mulheres de Abril”, uma ode de Cristina Branco às mulheres revolucionárias que José Afonso cantou e escreveu. Já nas lojas numa edição exclusiva em CD e vinil e, a 28 de novembro, também disponível nas plataformas digitais, o disco será apresentado ao vivo a 29 de novembro no Auditório Municipal Carlos do Carmo (Lagoa) e a 17 de dezembro na Casa da Música (Porto).
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Qual a origem do novo álbum “Mulheres de Abril”?
Partindo da oportunidade de continuar esta discografia do “Abril”, essa homenagem ao Zeca Afonso, surgiu a ideia de explorar melhor as mulheres do Zeca Afonso: em que medida é que o Zeca cantou e escreveu sobre as mulheres de Abril, sobre as mulheres da ditadura — se nós quisermos —, do tempo antes da Revolução. Aquilo que me interessa nesta segunda fase das músicas do Zeca é explorar o universo das mulheres de Abril, ou seja, as mulheres que o Zeca cantou, que ele quis trazer até ao pós-revolução, digamos assim, e perceber como é que elas se desenvolvem, como é que elas evoluem. E quais eram os anseios, quais são os anseios do autor, do Zeca Afonso, para estas mulheres.
“Teresa Torga”, o primeiro single a ser revelado e que encerra versos emblemáticos, foi muito bem recebido pelo público. Estava à espera dessa reação?
A bem da democracia, Teresa Torga é uma bandeira gigante para nós todos. «A mulher não é um biombo de sala»! A primeira vez que nós mostrámos as músicas novas, ou seja, esta criação nova do “Abril” sobre as mulheres de Abril, tinha obviamente essa expetativa. Porque separam-nos entre o disco “Abril” e o “Mulheres de Abril” cerca de 15/16 anos e, de facto, há uma nova forma, a meu ver, de olhar para a mulher. Esta imagem de força, esta imagem de poder que pode vir da mulher. Era importante para mim perceber qual seria a primeira reação do público. E foi de todo positiva. Eu acho que as pessoas receberam muito bem a Teresa Torga.
Pelo símbolo, tão atual, que representa?
A Teresa Torga é, obviamente, uma mulher, mas representada nesta canção, como a pessoa, uma pessoa que vive no silêncio. E aquele silêncio grita: grita “luta!”. É uma luta muda. Teresa Torga é uma pessoa, mais do que uma mulher, é uma pessoa que luta constantemente no seu silêncio. Ela está rodeada de pessoas, a lutar de uma forma quase extenuante. E essa, no fundo, é a mensagem da mulher revolucionária, da mulher que precisa de conquistar a sua liberdade também.
A música é a sua forma de luta?
Acho que fazer música é cada vez mais uma teimosia. Esta necessidade de fazer música, de fazer arte, começa a ser quase uma teimosia. Mas, ao mesmo tempo, é uma necessidade vital, é uma força vital. É impossível impedir a cultura, a arte e a música. Aquilo que nós sentimos é que há um pré-momento de censura, que a arte e que a música têm necessariamente que impedir. Fazer este “Mulheres de Abril” tem essa importância na minha vida: ir à procura de algo do passado que foi importante. O “Abril” deixou essa porta aberta e agora é necessário voltar a entrar, e procurar elementos que possam trazer para o presente algo que tenha força suficiente para dar às pessoas um caminho de liberdade contra a censura.
